Não
acredito em poetas nem em filósofos gregos ou alemães, em psicanalistas ou em
biólogos. Não acredito em teorias ou conselhos, em receitas ou testes de
revistas. Não acredito nos mais velhos e nem em livros de autoajuda, em filmes
americanos ou na Wikipédia. Não acredito em cartomantes nem em simpatias, em
cantadas infalíveis ou versículos da Bíblia. Não acredito em Eros ou Afrodite,
nos programas do Sílvio Santos ou na genética. Nem no García Márquez e nem no
Sternberg. Não acredito em Santo Antônio ou no Dia dos Namorados.
Eu
acredito em canções. Eu acredito no Elvis Costello. Entendo tudo que os discos
do Stevie Wonder querem me dizer. Acredito nos caras do Coldplay. Acredito em
Solomon Burke, Cazuza, Nirvana, Queen, Tom Waits, The Smiths, All Green, Frank
Sinatra, Neil Young, Verve e Radiohead. Estou com "Something", dos
Beatles. Confio em "Baby, I Love Your Way", Peter Frampton. Me
consolo com "Leaving On A Jet Plane", na versão de Peter, Paul &
Mary. Posso ser definido por "Comfortably Numb", Pink Floyd ou pela
turma do Bread, com "Lost Without Your Love". Tim Maia, John Lennon,
Carly Simon, Marvin Gaye, Jim Morrison, Chico Buarque, Otis Redding. Esse é o
pessoal que você realmente não perde por escutar.
Não
existe nada grafado em papel ou num divã de vinil que faça sua alma compreender
do que é feito o amor. Já ouviu falar em paixão, intimidade, sexo, loucura,
companheirismo, saudade? Se já, aposto 50 dinheiros, não foi porque leu em
algum lugar ou ouviu um professor os descrevendo. Você cruzou com isso em vida
ou então pôs seus headphones e deixou-se levar por uma canção, as três de uma
madrugada insone. Um dia você precisou aliviar seu sofrimento e quem estava lá?
Sua mãe, um analista, um amigo bêbado? Fodam-se eles. Você ligou o rádio e
alguém como Ian Curtis ou os rapazes do U2 disseram "ei cara, pare de
lamentar sua perda, você já deu a volta por cima, pense no quanto você está
melhor hoje". Aí você muda o disco.
O
que você entende por grupo de ajuda? Weezer, New Order, Velvet Underground?
Exato. Quando alguém te disser "eu estarei lá por você" só acredite
se vier do Bon Jovi, Jacksons Five ou do Kenny Rogers. Eles são os únicos que
você pode contar, no duro. Do resto, esqueça. Eles vão falar todo tipo de
porcaria, cheios de razão, arrogância e menosprezo vão ditar regras, dizer que
isso que soca seu peito é passageiro. E quem são eles? Um bando de diplomas
pretensiosos na parede empoeirada, rindo da sua cara pelas costas, seu suposto
idiota.
Para
dilatar uma alma contraída não há formação. Só duas coisas são capazes de
arrepiar os cabelos do seu braço: um toque carregado de ternura ou a bela
melodia num solo de guitarra. A única coisa que realmente importa acontece no
pátio em intervalos, e não nas salas de aula. Seja qual for a história, se
houver uma canção narrando sua situação, não importa o que disserem ou o que
estiver escrito. É amor.
Gabito
Nunes